Por: Renan Isaltino | Publicado em 25 de abril de 2019

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 A linguagem cênica prioriza a comicidade, a tragicomédia e a metateatralidade
 A companhia Corpo Rastreado chega ao Teatro Vitória no dia 5 de maio (domingo), às 19h, com o espetáculo “Terrenal – Pequeno Mistério Ácrata”. Com entrada gratuita, o espetáculo acontece por meio do projeto Circuito Cultural Paulista, da Secretaria da Cultura do Estado, com o apoio da Prefeitura de Limeira e Secretaria de Cultura.

 Com direção de Marco Antônio Rodrigues, texto do argentino Mauricio Kartun e tradução de Cecília Boal, a tragicomédia conta com Celso Frateschi, Dagoberto Feliz, Sergio Siviero e Demian Pinto no elenco, além de trilha ao vivo. Baseado na história bíblica de Caim e Abel, o espetáculo “Terrenal – Pequeno Mistério Ácrata” conta sobre dois irmãos que vivem às brigas, competindo tanto pela atenção do “pai” quanto pela propriedade.

 A linguagem cênica prioriza a comicidade, a tragicomédia e a metateatralidade. Terrenal poetiza sobre a história de ódio entre dois irmãos, e aponta, em um pano de fundo, conflitos sociais. O texto bíblico do livro de Gênesis narra o que é considerado o primeiro assassinato do mundo, mas Kartun aproveita este mito e vai além – usa esta potência do conflito para falar de assuntos contemporâneos que envolvem justiça, riquezas e visão de mundo. Aliás, com muito merecimento, a questão tem aparecido em outras searas artísticas, como o emblemático livro “Caim”, de José Saramago, da Companhia das Letras, q ue nas palavras de Juan Arias, jornalista e escritor, “(…) é também um grito contra todos os deuses falsos e ditadores criados para amordaçar o homem, impedindo-o de viver, em total liberdade, sua vida e seu destino”.

 Na montagem, os atores são artistas populares que encenam um espetáculo sobre Caim e Abel. Com recursos circenses, essa metateatralidade aponta para metáforas contemporâneas de nossa sociedade, como um Caim (Dagoberto Feliz) fixado em sua terra, acumulador de bens e moral. Já Abel (Sergio Siviero) é o nômade, sem muitas ambições além de ‘pastorear’ suas minhocas, é o paradoxo do irmão. Tata (Frateschi) é o pai de ambos, dual, carrega em si o caráter libertário e opressor, é aquele que os abandonou por 20 anos, mas também é aquele que volta e festeja.

 O texto original é de Mauricio Kartun – considerado um dos mais importantes dramaturgos da Argentina e uma referência no teatro latino-americano. Com mais de quatro décadas de carreira, desde sua estreia, com Civilización… ¿o barbarie? (1973), o artista tem realizado trabalhos marcados pelo compromisso com a atualidade política de seu país, além de um texto que flerta com a mitologia clássica. Terrenal foi traduzido para o português por Cecília Boal, viúva de Augusto Boal, principal liderança do Teatro de Arena (SP) na década de 1960, criador do teatro do oprimido, metodologia internacionalmente conhecida que alia teatro e ação social.

 O dramaturgo fez parte do grupo teatral argentino El Machete, que encenou em 1973 na extinta Sala Planeta em Buenos Aires a peça Ay, Ay! No hay Cristo que aguante, no hay! adaptação de “Revolução na América do Sul”, com a direção de Augusto Boal. Desde a sua estreia em terras portenhas em 2014, Terrenal tem se mostrado um fenômeno da cena teatral independente da argentina. São mais de 65 mil espectadores e dezenas de premiações, como os argentinos Prêmio de Crítica da Feira do Livro, pelo texto, e o Prêmio da Associação de Cronistas de Espetáculos (melhor obra). O Instituto Augusto Boal é o idealizador e a Associação Cultural Corpo Rastreado e a DCARTE são coprodutoras do espetáculo.

 Conflitos em Cena

 O enredo desta tragicomédia parte da história de dois irmãos que habitam o mesmo terreno, comprado pelo pai. A princípio considerado um ‘paraíso’, o pedaço de terra está situado em uma conurbação urbana. A história se passa em um domingo (dia santo), que marca também vinte anos de sumiço de Tata, o pai, que os abandonou ainda pequenos. O dia começa com os irmãos em conflito: Caim cumpre o mandamento de descansar, enquanto Abel só trabalha justamente aos domingos, vendendo iscas, besouros e minhocas para os vizinhos irem à pesca. Caim produz pimentões, dedica-se à produção e ao comércio e usa isso c omo motivo de orgulho para tripudiar sobre o irmão – ele é aquele que em um futuro próximo erguerá cidades cheia de muros para defender o patrimônio. Abel não tem apego à terra, é um nômade sonhador, cultiva o ócio e usufrui das delícias da vida. (Da redação portal Notícia de Limeira)

 Serviço

 Espetáculo teatral: Terrenal – Pequeno Mistério Ácrata

 Companhia: Corpo Rastreado

 Quando: 5 de maio

 Horário: 19 horas

 Onde: Teatro Vitória (Praça Toledo Barros, s/n, Centro).

 Entrada: Gratuita (Retirada dos ingressos 1h antes da apresentação)

 Classificação: 16 anos


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