Por: Renan Isaltino | Publicado em 11 de outubro de 2018

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 Cine Câmara promoveu debate sobre película e questões sociais que envolvem o racismo

 Com a mediação da advogada, Joyce Bueno, a sessão do Cine Câmara que exibiu Pantera Negra, na noite de terça-feira, 9 de outubro, promoveu uma reflexão do público sobre questões raciais. Em tela, o filme de super-heróis inspirou o debate não somente sobre a qualidade técnica da película e dos efeitos especiais, mas pela narrativa construída com elementos étnicos e referências sobre desigualdades que partem da ficção e alcançam a realidade. A exibição contou com a participação do Grêmio Recreativo Limeirense.

O primeiro filme de super-heróis protagonizado por elenco predominante negro, atribui papel de notoriedade às mulheres em cena: seja por meio da rainha-mãe Ramonda (Angela Bassett), da irmã do protagonista responsável pelo domínio de toda tecnologia de ponta ou mesmo o exército de guerreiras de Wakanda (nação africana ficcional).
“Diante da falta de identificação com personagens negros, esse filme vem como um marco histórico, com o protagonista negro, o elenco todo negro. Então é um fator inédito importante que para a comunidade negra é de um peso sem igual. A questão da igualdade social é também tratada de uma maneira muito próxima”, descreveu Ana Claudia Evangelista, membro do Grêmio, ao descrever que o Pantera Negra tem um enredo de fantasias, mas com referências a questões reais.

Para Joyce Bueno, as cenas vão além da composição de elenco de afro-americanos. “O filme tem vários elementos desde a questão específica de pensar a filmografia, a fotografia, o enredo, o contexto histórico. Ele suscita quais são as análises críticas que devemos fazer ao vê-lo e isso é um conjunto amplo. O Pantera Negra se destaca não só pelo valor da bilheteria que ele atingiu, mas pela qualidade técnica do conjunto da obra”, destacou a mediadora.
Em seu discurso, a advogada apontou algumas reflexões que são levantadas. “A totalidade do filme diz muito sobre outros elementos como a questão étnico-racial. Ao discutir isso, devemos fazer reflexões críticas e que ultrapassem alguns limites. O filme faz um chamado para refletirmos sobre o pensamento decolonial, pensar o pan-africanismo, pensar a superação de uma lógica do que sempre é branco e tradicional. E isso não é fácil, não é um processo simplista”, declarou.

 Segundo a advogada, o país construído na ficção projeta os espectadores a refletirem sobre a própria realidade em que estão inseridos. “Qual a sociedade brasileira que queremos construir? Como construir uma Limeira que não somente desenvolva tecnologias, mas os negros estejam incluídos, e que a cultura negra seja respeitada, que as mulheres sejam respeitadas. Isso é extravasar a própria película e pisar no concreto. Não é só numa Wakanda que construímos uma realidade melhor coletivamente, mas aqui”.
Repensar as desigualdades

 Durante o debate, a mediadora fez algumas pontes entre desigualdades e momentos históricos no Brasil e na África. “Pensar as desigualdades sociais brasileiras, sem pensar o processo escravocrata é anacrônico. As nossas desigualdades não começaram em 1990, começaram muito tempo atrás e para serem superadas, elas têm que ser pensadas a partir de uma perspectiva histórica”, defendeu.

 Ela citou algumas transformações ocorridas no continente africano. “Todo o continente foi drasticamente saqueado, através de sequestro, de estupros compulsórios, roubos, mortes. E, como diz Foucault, a gente tem que dizer o nome das coisas para saber aquilo que a gente combate e o nome da prática perpetrada pelos europeus na África foi sequestro, foi roubo. Para além do que o filme nos diz, devemos olhar o que a realidade nos diz. A tarefa da arte é esta: entrar em nós e gerar reflexão, mudança”, ponderou. (Da redação Portal Notícia de Limeira)


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