Por: Renan Isaltino | Publicado em 17 de junho de 2020

Compartilhe

 A primeira sede do serviço ficava no atual complexo esportivo da Piscina Municipal Alberto Savoi e reunia, no mesmo espaço, alunos com ambas as deficiências

 O Centro Educacional João Fischer Sobrinho completa 30 anos de fundação nesta quinta-feira (18). O serviço é mantido pela Prefeitura de Limeira, por meio do Ceprosom, e oferece atendimento especializado para pessoas com deficiência auditiva e visual. “Trata-se de um serviço que é referência não só para Limeira. O trabalho desenvolvido pela equipe é de altíssima qualidade e propicia inclusão social. Ao longo de todos esses anos, foram muitos os avanços e a evolução de cada aluno”, cita o prefeito Mario Botion.

 A primeira sede do serviço ficava no atual complexo esportivo da Piscina Municipal Alberto Savoi e reunia, no mesmo espaço, alunos com ambas as deficiências. Com o passar do tempo, houve necessidade de separação das áreas e de criação de locais independentes de trabalho. A área de deficiência visual fica atualmente em um imóvel na Vila Paraíso enquanto a de deficiência auditiva, na Rua Carlos Gomes, no Centro da cidade. Juntas, as duas unidades acolhem cerca de 100 pessoas, de 1 a 75 anos.

 A assistente social, especialista em Educação Inclusiva e coordenadora do João Fischer Deficiência Auditiva (DA), Marina Alencar, lembra que a criação da unidade, em 1990, veio como resposta à solicitação dos pais, que precisavam levar os filhos a cidades da região, em busca de atendimento.

 Ela esclarece que o objetivo da instituição é oferecer atendimento socioeducacional bilíngue a crianças, adolescentes e adultos com deficiência auditiva ou surdez, bem como as suas famílias. “Procuramos estimular a inclusão social, a integração familiar e o desenvolvimento das potencialidades de cada um. Trabalhamos pela conquista da autonomia e da melhoria da qualidade de vida”, frisa.

 Para tanto, as atividades visam aguçar as habilidades sociais e emocionais, de forma lúdica. Há, ainda, trabalho voltado ao desenvolvimento da autonomia. Dentro dessa linha, está o ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras), que conta com a atuação do ex-aluno e hoje professor, Alexssandro Silva da Fonseca. Além disso, são promovidas reuniões semanais com familiares para troca de experiências.

 Uma das crianças atendidas pelo João Fischer DA é João Pedro de Souza Santos, de 12 anos. João nasceu com surdez profunda bilateral e ingressou na instituição ainda bebê, aos 11 meses. A mãe, Cindy Simone, disse que o filho chegou a fazer implante coclear, porém, o procedimento não permitiu que ele desenvolvesse completamente a fala. “Hoje, com a ajuda dos profissionais do João Fischer, meu filho está alfabetizado, algo que o neurologista achava muito difícil acontecer”, comenta. “Com toda dedicação e empenho da equipe, ele conseguiu ultrapassar as expectativas”, completa.

 Mesmo em tempos de pandemia de coronavírus, Cindy Simone revela que o filho continua recebendo atenção e carinho. “Isso para o coração de uma mãe, não há dinheiro que pague”, salienta. No que diz respeito à inclusão social, ela afirma que os profissionais do João Fischer procuram mostrar aos usuários o quanto eles são importantes e capazes. “Eles fazem um trabalho maravilhoso e de extrema importância. Eu só tenho a agradecer, pois foi com a ajuda deles que meu filho está evoluindo e se transformando num grande homem.”

 PLANEJAMENTO

 O foco na identificação das potencialidades, o desenvolvimento da autonomia e o fortalecimento da convivência familiar e comunitária também são citados pela coordenadora da unidade voltada às pessoas com Deficiência Visual (DV), Adriana Vasconcelos Casimiro. Pedagoga de formação e especializada em Deficiência Visual, Adriana trabalha há 28 anos na instituição. Ela explica que o trabalho oferecido é individualizado e ocorre a partir da elaboração de um planejamento técnico.

 Além de atuar na habilitação e reabilitação, a coordenadora esclarece que o serviço faz o enfrentamento das condições de vulnerabilidade e da violação de direitos vivenciados pela família. Para tanto, reúne uma equipe multidisciplinar, formada por terapeutas ocupacionais, fonoaudióloga, fisioterapeuta, psicóloga, assistente social, educadoras e monitores de informática, estes últimos, ex-alunos do João Fischer que passaram em concurso público e hoje são servidores da prefeitura. A equipe também dispõe de professor de mobilidade, que ensina os alunos a se locomoverem com o auxílio de bengala, além de outros profissionais.

 “É gratificante saber que colaboramos para a inclusão dos nossos alunos na sociedade. Muitos constituíram família, casaram-se e tiveram filhos. Nossa instituição também é reconhecida no meio acadêmico e despertamos interesse de universidades, como a Unicamp, além de pessoas que se candidatam a trabalhar voluntariamente”, enfatiza a coordenadora.

 Em razão do Covid-19, Adriana informa que as atividades presenciais estão suspensas. Porém, a equipe tem gravado vídeos para enviar aos alunos e em caso de emergência, os atendimentos ocorrem remotamente. Ela também alerta que os deficientes visuais são extremamente vulneráveis ao contágio pelo coronavírus, pois o tato é um sentido muito usado por essas pessoas.

 EXCELÊNCIA

 A excelência dos profissionais que atuam no João Fischer e o apoio oferecido aos familiares são os diferenciais apontados por Giovana Carolina Gravena dos Santos, mãe de Victor Eduardo, de 16 anos. Ela conta que o filho nasceu com descolamento de retina e frequenta o serviço desde os oito meses. “Eu precisei aprender a lidar com a deficiência visual do meu filho e o João Fischer me deu todo o suporte que eu precisei.”

 Mãe de outras três meninas, Giovana também comenta sobre a importância das reuniões mensais com outras mães, organizadas pela assistente social e pela psicóloga do João Fischer. “Esses encontros nos auxiliam com relação à deficiência e com a família como um todo. O João Fischer é como uma segunda família pra nós”, diz.

 Além do atendimento no João Fischer, Victor Eduardo frequenta a escola regular – está no segundo ano do ensino médio – e faz aulas de bike pelo Proesa, programa de esportes adaptados da Secretaria de Esporte e Lazer. Sobre as aspirações para o futuro, ele tem um único desejo. “Espero a ampliação do projeto [do João Fischer] e que as crianças atendidas hoje tenham a mesma oportunidade que nós tivemos. Espero que elas tenham autonomia e que possam progredir cada vez mais”, afirma.

 “O município de Limeira pode se orgulhar por realizar a inclusão de pessoas com deficiência por três décadas, antes mesmo que legislações federais entrassem em vigor. Isso mostra a importância do trabalho da Assistência Social em Limeira e o serviço prestado pelo Centro Educacional João Fischer, que atende pessoas de todas as idades”, ressalta Maria Aucélia Damaceno, presidente do Ceprosom. (Da redação portal Notícia de Limeira)


Compartilhe

Comentários

comentários