Por: Renan Isaltino | Publicado em 24 de agosto de 2020

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 Para um dos médicos da URC, Frederico Gomide Sandoval, dona Ana é a representação da superação

 “Milagre não é uma luz que vem do céu e faz algo sobrenatural apenas. Acredito que os milagres também ocorrem pela inteligência médica. É quando [os médicos] fazem o que é melhor para o paciente e dá certo”, diz a professora Maria Cecília Shulz Barbosa, de 45 anos, filha de Ana Shulz Barbosa, de 75 anos, que ficou dois meses e 12 dias internada na Unidade de Referência Coronavírus (URC). Para um dos médicos da URC, Frederico Gomide Sandoval, dona Ana é a representação da superação, referindo-se aos obstáculos que a paciente teve que vencer. Foi a internação mais longa da unidade. A alta hospitalar aconteceu neste domingo (23).

 Dona Ana foi internada no dia 11 de junho e, no dia seguinte, deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Em 29 de junho, foi necessária a realização da traqueostomia. Em 6 de julho, foi identificada insuficiência renal, o que exigiu o início de hemodiálise por nove dias. Com melhora do quadro de saúde, ela foi transferida para enfermaria em 5 de agosto e, neste domingo, ocorreu a tão esperada alta do hospital.

 Para a família, foram dias intermináveis e um pesadelo a cada telefonema recebido da URC. “Foi tudo muito rápido”, conta a filha. “A intubação foi bem traumática, a traqueostomia, depois uma forte bactéria, inúmeras medicações e a falência dos rins. Foi muito grave. Tínhamos de estar preparados”, relata Maria Cecília. “Num final de semana, quando ela não reagia, me ajoelhei e clamei a Deus. Sei que ninguém merece isso, mas não era justo”. Maria Cecília diz ter sentido remorso porque ela foi infectada primeiro, apesar de todos os cuidados que relatou ter respeitado, como isolamento e severa higienização.

 A fé da filha e dos demais parentes de dona Ana, além da ciência, são fatores que explicam a recuperação. Maria Cecília expôs o drama da família por meio de redes sociais. Ela usou quase que diariamente seu perfil no Facebook para relatar o dia da mãe na URC e, ao mesmo tempo, manifestar o seu gesto de fé, por meio de orações. A cada postagem, as manifestações de orações se somaram, criando uma grande corrente de esperança.

 Na segunda-feira após aquele final de semana marcante, sem dormir, como relata, Maria Cecília recebeu ligação da URC que informava que a mãe tinha reagido. Os medicamentos começaram a fazer efeito, a pressão estabilizou e o quadro melhorou. A decisão da equipe médica de tentar outro tratamento foi atribuído o milagre, considerado pela filha. Foi a vitória da fé.

 SUPORTE

 “Acredito que não tenha ninguém da equipe que não tenha acompanhado o caso desta paciente”, relata o médico gastro-cirurgião, Frederico Gomide Sandoval. A URC tem mais de 500 profissionais, de todos os setores, que se revezam. E todos, de acordo com o médico, têm participação nesta recuperação.

 “A equipe inteira ficou muito feliz e motivada em ver que foi possível curar, apesar da complexidade. Infelizmente, nem sempre conseguimos vencer”, lamenta o médico. O que não falta, destaca Sandoval, é empenho dos profissionais da URC, “que tratam dos pacientes como fossem da família, e também o suporte da Prefeitura, que não poupou recursos para que pudéssemos trabalhar de forma capacitada e científica”. “Usamos o que é baseado em evidências e a taxa de recuperação tem sido bastante expressiva”. Atualização desta segunda-feira (24) mostra 96,7% de taxa de recuperados em Limeira.

 SEM LIMITES

 Para Maria Fernanda Olívio Dionizio, diretora de Urgência e Emergência da Secretaria de Saúde, que coordena a URC, dona Ana Schulz foi um milagre na unidade. “Histórias como essa é o que nos motiva a não desistir. Todo o esforço e dedicação que temos para com os pacientes, não há limites. Os dias são dedicados a eles, independente de idade e gênero”.

 Agora, diz o médico Sandoval, a torcida é para que dona Ana consiga vencer a reabilitação e retome as condições mínimas de independência.

 A família de dona Ana tem consciência de que, em casa, começa uma nova etapa. “Ela chegou consciente, falando, sem sonda e sem traqueo. Até poucos dias, isso era quase inimaginável. É um milagre do amor da família dela, dos amigos que oraram e de muitas pessoas que nem conhecemos. Mas agora, em casa, temos de cuidar das feridas. Sabemos que é um processo longo e doloroso, e ela vai precisar de profissionais para retomar a autonomia”, conta Maria Cecília.

 A filha conta que o “diário” nas redes sociais, em que relatou todo o drama da internação da mãe, tinha a finalidade de, inicialmente, alertar a todos que lessem sobre o perigo da Covid-19. Porém, as publicações tiveram também um contorno de desabafo e alento com as respostas.

 Apesar de idosa, a filha conta que dona Ana era bastante ativa e saudável. “É uma grande emoção ter minha mãe de volta em casa, mas o relato que fiz durante esse tempo também é para servir de alerta para que outras pessoas não passem por isso”. (Da redação portal Notícia de Limeira)


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