A construção da plataforma ficou sob a responsabilidade do Gerente de Planejamento e Estatísticas da pasta, Edgar Caldeira da Cruz
A suspensão das aulas presenciais em razão da pandemia de coronavírus acelerou a criação de uma plataforma de Libras (Língua Brasileira de Sinais) para 23 alunos com surdez, matriculados nas escolas da Prefeitura de Limeira. A iniciativa, denominada “Perguntando em Libras” foi desenvolvida pelo Projeto Bilíngue, integrado por profissionais da Secretaria de Educação especializados em educação de surdos e intérpretes.
Hospedada no site da pasta, a plataforma disponibiliza uma série de histórias interpretadas em Libras pelo professor surdo Alexssandro Fonseca e produzidas pela vice-diretora da Ceief Rafael Afonso Leite, Luciana Martinatti. Todos os vídeos são legendados em português. Ao final de cada história, os estudantes devem responder a um questionário com dez perguntas.
A construção da plataforma ficou sob a responsabilidade do Gerente de Planejamento e Estatísticas da pasta, Edgar Caldeira da Cruz, que reúne conhecimento nas áreas de tecnologia, administração e educação. “Como a demanda pela interação com os alunos surdos era extremamente importante, surgiu a ideia de desenvolver essa plataforma”, relata.
O sistema levou apenas um mês para ficar pronto e entrou no ar em maio. Para acessá-lo, basta que o aluno entre no site da Secretaria de Educação, clique sobre o ícone “Perguntando em Libras” e digite sua senha. “O estudante consegue acessar o conteúdo de maneira totalmente independente”, completou Cruz.
Além de proporcionar aos alunos surdos a continuidade do aprendizado durante a quarentena, o “Perguntando em Libras” permite o enriquecimento do vocabulário por parte desse grupo. É o que explica a coordenadora do Projeto Bilíngue, Katia Romina de Lima Bernardo. “É uma ferramenta facilitadora do conhecimento. Os alunos aprendem de forma lúdica”, afirmou.
Há 20 anos na Secretaria de Educação, Katia é formada em Pedagoga, tem especialização em Gestão Escolar, conhecimento de Libras, e atualmente, dirige o Afonso Leite. Com toda essa bagagem curricular, ela destaca que a iniciativa vem alcançando bons resultados. “A distância imposta pela quarentena dificulta, mas estamos vencendo as barreiras. Pelo retorno das famílias e alunos, vemos que o impacto desse trabalho tem sido positivo”, comentou.
EDUCAÇÃO BILÍNGUE
O “Perguntando em Libras” é mais um degrau na implantação da educação bilíngue nas escolas da rede. Neste ano os alunos surdos também vivenciaram uma experiência até então inédita. Todo o conteúdo pedagógico passou a ser ensinado em Libras, “a língua materna desses alunos”, observa Katia.
Até então, as aulas ocorriam em Língua Portuguesa e eram traduzidas para Libras por um professor intérprete. Em fevereiro, os alunos, que em sua maioria frequentam a Ceief Professora Flora de Castro Rodrigues, ganharam um espaço novo, onde assistem às aulas com um professor bilíngue. A Língua Portuguesa, no caso a escrita, tornou-se a segunda língua.
A socialização com os demais estudantes (ouvintes), esclarece Kátia, ocorre nas aulas de Arte, de Educação Física e nas atividades coletivas. Com apenas três semanas de “vida”, o projeto sofreu uma grande reviravolta com a suspensão das aulas presenciais devido ao coronavírus.
Para dar prosseguimento ao aprendizado, foram criados grupos de WhatsApp em que os professores mantém contato permanente com familiares e alunos. São três grupos, um do ensino infantil e dois do ensino fundamental, em que a troca de informações é constante. “Hoje, 100% das famílias estão inseridas nesses grupos e recebem vídeos educativos produzidos em Libras pelos professores”, conta.
GARANTIA CONSTITUCIONAL
Uma das famílias inseridas no Projeto Bilíngue é a de Wilza Carla de Freitas, mãe de Gianluca, de 7 anos. Ela conta que o filho foi diagnosticado com surdez aos 2 anos, quando fez a primeira cirurgia de implante coclear no ouvido direito – dispositivo eletrônico capaz de restaurar a audição de pessoas com surdez. Um ano depois o filho foi submetido a um segundo procedimento, para o implante no ouvido esquerdo. “A trajetória dele não foi fácil”, ela comenta.
Apesar do esforço para que Gianluca superasse a surdez, o que incluía inúmeras sessões de fonoaudiologia, Wilza afirma que o filho não se adaptava ao processo de “oralização”, que envolve a leitura labial e o uso da Língua Portuguesa. “Era muita pressão”, diz. Até que um dia, o menino resolveu se livrar do implante. “Ele jogou um dos aparelhos no vaso sanitário e deu a descarga”, lembra. O outro, foi perdido na escola de educação infantil que frequentava à época.
No ano passado, os dois procuraram o Centro Educacional João Fischer Sobrinho – Área Auditiva, serviço especializado mantido pelo Ceprosom. Foi lá que Gianluca entrou em contato pela primeira vez com a Língua Brasileira de Sinais. Com apoio do professor Alexssandro e demais integrantes do Centro Educacional, ele aprendeu rapidamente a dominar esse novo idioma, e mais do que isso, passou a demonstrar entusiasmo pelo conhecimento.
Com um novo desafio à frente, Gianluca foi matriculado no Projeto Bilíngue da Ceief Flora, onde iniciou, em fevereiro, o primeiro ano do ensino fundamental. Nos primeiros dias de aula, a mãe relata que o filho sentia-se um pouco deslocado, mas logo ela percebeu uma grande mudança. “Ele pegava o uniforme e demonstrava que queria ir à escola”, conta.
Foram aproximadamente três semanas de aula, quando a pandemia interrompeu o processo de adaptação do menino, que voltou a ficar “apático”, segundo a mãe. No entanto, quando os “kits pedagógicos” começaram a chegar em casa, ela afirma que Gianluca recuperou o ânimo. Além do material impresso, ele passou a receber pelo celular, vídeos em Libras com o conteúdo a ser desenvolvido. “A equipe do Projeto Bilíngue soube contornar brilhantemente a pandemia. Sinto que a escola tem garantido o direito constitucional do meu filho a um atendimento educacional especializado”, conclui Wilza. (Da redação portal Notícia de Limeira)
