Por: Renan Isaltino | Publicado em 21 de setembro de 2020

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 Atualmente, a EJA atende 241 pessoas no município, com idades que variam dos 15 aos 85 anos, em quatro escolas municipais

 Os 40 anos que separaram Antônia Felício da Rocha da escola não foram suficientes para que ela abandonasse o sonho de ser plenamente alfabetizada. Hoje, aos 69 anos, Antônia é aluna do terceiro termo da EJA (Educação de Jovens e Adultos), segmento escolar desenvolvido pela Prefeitura de Limeira, por meio da Secretaria de Educação. Apesar da mudança abrupta na rotina das aulas em razão da pandemia de coronavírus, ela segue firme com as atividades de educação à distância, instituídas pela Secretaria de Educação de Limeira.

 Periodicamente, ela vai até a Emeief Limeira, onde estuda, retirar o “kit pedagógico” para fazer as lições em casa. As explicações sobre os exercícios chegam pelo WhatsApp, ferramenta utilizada pela professora para enviar vídeos didáticos e tirar todas as dúvidas da aluna. “É muito bom esse jeito, a gente conversa muito, eu não fico atrasada”, comenta Antônia.

 Atualmente, a EJA atende 241 pessoas no município, com idades que variam dos 15 aos 85 anos, em quatro escolas municipais. A iniciativa é voltada a jovens, adultos e idosos que, a exemplo de Antônia, não concluíram os estudos ou não tiveram acesso à educação na idade apropriada.

 Nascida na cidadezinha de Poté, em Minas Gerais, ela conta que não foi criada pelos pais e sim por um primo. “Ele não me deixava ir à escola”, disse. Aos 28 anos, Antônia chegou a cursar o Mobral (antigo programa de alfabetização), aprendeu a escrever o nome e a ler algumas palavras.

 Sempre trabalhando à noite como cozinheira para sustentar o único filho (hoje formado em Logística), ela relata que não tinha tempo de retornar aos estudos. Em 2018, já aposentada, matriculou-se na EJA, desde então, está “batalhando para aprender” e já consegue ler um pouco da Bíblia. “A professora é muito boa”, comenta. Incansável, ela encontrou uma nova profissão, é cuidadora de idosos, e aproveita todo o tempo disponível para estudar. “A mente fica mais aberta”, conclui.

 KITS PEDAGÓGICOS

 A EJA da Rede Municipal atende ao primeiro ciclo do ensino fundamental, contemplando as disciplinas previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como Língua Portuguesa, Ciências, Matemática, entre outras. Porém, com as aulas presenciais suspensas desde março, o coordenador do programa, Lucas do Amaral Evangelista, esclarece que a Secretaria de Educação tem elaborado mensalmente roteiros de estudos específicos para esse público, os chamados “kits pedagógicos”.

 Além disso, ele observa que cada escola planeja atividades complementares. “Essas atividades são pensadas e trabalhadas com temáticas do cotidiano desses estudantes, e envolvem, até mesmo, questões relacionadas à pandemia”, diz.

 Pós-graduado em Gestão Escolar e em Educação Especial e Inclusiva, ele salienta outro aspecto importante durante o aprendizado à distância. O contato permanente entre professores e alunos, para orientá-los e fornecer todos os esclarecimentos necessários à continuidade do aprendizado. “A mediação com os professores tem contribuído para que esses estudantes não deixem a escola, não percam o gosto e o interesse em aprender, mesmo vivendo situações tão difíceis”, conclui.

 SUPERAÇÃO

 Matriculada na EJA neste ano, a aluna E. P. S, de 50 anos, é outro exemplo positivo do aprendizado remoto. Nascida em Araguaia (TO), ela conta que chegou a frequentar a escola, mas disse que aprendeu “muito pouco”.

 A possibilidade de estudar ficou ainda mais distante quando, aos 12 anos, foi empregada pela mãe na casa de uma família, onde era submetida à situação de escravidão. “Trabalhava em troca de comida e de moradia”, lembra. Aos 16, foi morar em São Paulo, cidade em que enfrentou condições de sobrevivência ainda piores com os maus-tratos da família para qual trabalhava.

 Há duas décadas em Limeira, ela deparou-se há dois anos com uma grande necessidade de retomar os estudos, quando o marido perdeu a visão. Agora em 2020, passou a frequentar a Emeief Deputado Laércio Corte. “Comecei do zero”, afirma.

 O desafio de voltar a estudar aumentou com a quarentena, mas além do apoio dos professores, ela tem ajuda da neta, de 12 anos, para fazer as atividades propostas pela escola. Ainda constrangida por não dominar a escrita – razão pela qual prefere não ser identificada – ela está otimista com seu progresso e já traçou um plano. “Quero aprender a ler e a escrever para tirar a carteira de motorista”, diz. (Da redação portal Notícia de Limeira)


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