Por: Renan Isaltino | Publicado em 2 de outubro de 2020

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 A estrutura foi se ampliando, conforme o avanço da pandemia – hoje, felizmente, já numa situação mais tranquila

 Ao lado de hospitais parceiros, a Prefeitura de Limeira, por meio da Secretaria de Saúde, implantou em abril uma estrutura significativa na Unidade de Referência Coronavírus (URC), como forma de garantir o atendimento a pacientes infectados pela Covid-19. A estrutura foi se ampliando, conforme o avanço da pandemia – hoje, felizmente, já numa situação mais tranquila.

 Para se avaliar a dimensão dessa estrutura de atendimento, basta constatar a quantidade de profissionais no local, a maioria deles na linha de frente do enfrentamento à doença. A URC chegou a ter 536 funcionários, segundo números divulgados pela Secretaria de Saúde.

 Esse contingente de pessoal vem lidando há mais de seis meses com uma experiência rara de âmbito profissional. Além do empenho, do trabalho intenso, os profissionais experimentam emoções a cada dia de trabalho. Choram por vidas salvas e também por aquelas que se foram tamanho a gravidade da doença (leia depoimentos mais abaixo)

 INÍCIO

 A estruturação começou a partir de um entendimento entre a Prefeitura e hospitais particulares do município. O objetivo foi centralizar o atendimento de pessoas infectadas pela Covid-19. Outros hospitais também, conforme o protocolo do acordo, atendem pacientes – em especial aqueles conveniados. Mas havendo necessidade, também os assistidos pelo SUS.

 Os 536 profissionais atuaram em diversos setores. A maioria é da área de saúde. A unidade chegou a ter 98 médicos, 64 enfermeiros, 195 técnicos de enfermagem, 32 fisioterapeutas, 15 auxiliares de farmácia, cinco farmacêuticos, uma nutricionista, 46 pessoas do setor de higienização, 32 no administrativo, quatro na manutenção, oito da equipe de segurança, 13 da lavanderia, seis do laboratório, 12 da copa e cinco assistentes sociais.

 É na URC que a maior parte dos pacientes na cidade fica quando os sintomas são agravados e há necessidade de internação, seja na enfermaria ou na UTI. Também são feitos atendimentos ambulatoriais no local. São estes profissionais que cuidam, se emocionam quando os pacientes se recuperam e também choram quando ocorrem perdas.

 Muitos destes profissionais têm décadas de experiência, mas nesta pandemia eles mesmos afirmam que estão todos aprendendo a cada dia. A URC começou a funcionar em 13 de abril, em espaço anexo à Humanitária. O hospital passou a se dedicar exclusivamente ao tratamento de pacientes de Covid-19.

 ORGULHO E SEGURANÇA

 Marília Ribeiro, de 32 anos, tem especialização em técnicas de higienização e coordena o setor na URC desde o início, o que foi considerado um enorme desafio, pois trata-se de uma nova doença, em que muito ainda havia que ser descoberto e, mesmo assim, de acordo com ela, tem sido mantido os índices de controle de infecção hospitalar. “Criamos protocolos junto com a infectologista responsável [Beatriz Caraccio] para manter o nível de higienização e conseguir trazer segurança aos colaboradores que atuam na unidade”. Como exemplo da eficiência do trabalho, ela cita que, dos mais de 40 funcionários da higienização, dois tiveram confirmação de Covid.

 O trabalho reflete diretamento na qualidade do atendimento das centenas de pacientes que passam pela URC

 ALEGRIAS E TRISTEZAS

 O enfermeiro Marcelo Girardelle, 49 anos, conta que atua na área da saúde há 25 anos e afirma: “Por mais experiência que o profissional tenha dentro de hospital, e com várias doenças, nunca lidou com uma situação como esta, principalmente no início da pandemia, que foi muito difícil”. Agora, com o dia a dia de cuidado dessas pessoas, ele conta que o entrosamento de todos os profissionais, com o alinhamento ao que já é conhecido, facilita no cuidado e recuperação. “A gente vê no olhar dos pacientes [que estão acordados] quando estão pedindo ajuda. Eles falam com olhar”, conta.

 Girardelle conta que, quando o paciente é recuperado, os profissionais da URC fazem o tradicional corredor de aplausos “porque a emoção é, realmente, muito grande, principalmente quando o paciente fica muito tempo internado. É muito gratificante. E a gente pensa: Tudo que eu fiz foi bom, e valeu a pena. Mesmo os que a gente não consegue salvar, refletimos que foi feito tudo que estava ao nosso alcance. Infelizmente, quando a gente se depara com a morte, a tristeza também é muito grande. E nos colocamos no lugar da família, dos que ficam com a dor”.

 EMPATIA E CHORO

 “A experiência que tenho vivido, assim como todos os colegas aqui, é única em vários aspectos. Aqui formamos uma grande família entre colegas de trabalho e pacientes porque, muitos deles, ficam internados a longo prazo. Então a gente se apega. A gente ri, chora e vibra e vivemos, literalmente, como uma grande família”, descreve Juliana Barroso Kühl, 35 anos, enfermeira coordenadora de uma das alas de UTI da URC.

 Ela confirma o misto de sensações, de quando os pacientes têm alta e também quando ocorrem as perdas. “E é muito difícil para nós. Muitas vezes, a gente chora junto com a família porque acabamos nos apegando. Enquanto eles estão aqui, o único contato com pessoas que eles têm é conosco. De verdade, para mim, o sentimento que acredito que muitas pessoas estão aprendendo, inclusive eu, é a empatia. E temos a certeza que todos nós, no fim, somos todos iguais”.

 LUTA DIÁRIA

 Francisco Barros, 51 anos, é cirurgião cardiovascular e trabalha com terapia intensiva há 28 anos. Ele foi um dos médicos que se colocou à disposição para participar da URC desde o início e conta que é assustador estar frente a frente com uma doença que tem matado milhares de pessoas pelo mundo. “Graças a Deus, aqui em Limeira, foi disponibilizada uma estrutura que não deixa a desejar para nenhum lugar do mundo, com a união de todos os hospitais junto com a Prefeitura. Aparelhos de última geração, respiradores, que comportam fazer ventilação com muitos parâmetros. A doença requer isso. Além disso, colchões pneumáticos pra evitar escara de paciente porque eles ficam muito tempo sedados e com ventilação mecânica. E o que a gente percebe é o entrosamento dos profissionais porque, apesar de ter médicos, enfermeiros, técnicos e limpeza de vários hospitais, percebe-se a união de todos em um bem comum, que é salvar vidas, e isso motiva muito a gente”.

 Diante de pacientes com Covid todos os dias, o médico alerta para uma doença muito complexa, que afeta todos os sistemas, desde o sangue, rim, coração, pulmão, cérebro, fígado. “Estou acostumado a tratar pacientes de terapia intensiva, mas estes pacientes que tem Covid fogem totalmente à regra de qualquer paciente grave. São realmente gravíssimos, descompensam de uma hora para outra, que num dia estão bem e no outro estão muito mal”.

 A torcida do médico é para que uma vacina chegue logo. “Estamos vendo casos de reinfecção. Todos temos medo de estar frente a frente com o inimigo, mas a dedicação de todos têm sido muito importante até a chegada desta vacina”.

 Frases:

 “Mesmo com uma doença nova, é gratificante manter controlados os índices de infecção”

 – Marília Ribeiro, coordenadora da higienização

 “Quando saem recuperados, vibramos; mas quando há perdas, também dói em nós”

 – Marcelo Girardelle, enfermeiro

 “Formamos uma grande família entre colegas de trabalho e pacientes”

 – Juliana Barroso Kühl, enfermeira coordenadora de UTI

 “São pacientes gravíssimos, que descompensam de uma hora para outra”

 – Franscisco Barros, cirurgião cardiovascular e intensivista (Da redação portal Notícia de Limeira)


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